segunda-feira, 31 de maio de 2010

Diálogo confuso sobre espelhos e você mesmo


_Ei, você! porque está me imitando?
_Quê? Quem disse que estou te imitando?
_Tá. Então dá pra parar de ficar me encarando?
_Espere aí, você é só a minha imagem no espelho, então, na verdade eu só estou olhando pra mim mesma e fazendo coisas minhas.
_Não, você que é a minha imagem no espelho. Porque se eu fosse sua, eu não seria minha, mas como eu sou dona de mim mesma, você não pode dizer essas coisas sobre mim ou sobre as minhas coisas... A não ser que esteja se referindo a si mesma ou às suas próprias coisas.
_Credo! Mas você fala mesmo!?
_Não, sua tonta! Isso é puro fruto da sua imaginação...
_Ai que alívio, por um minuto eu pensei que estava falando com a minha imagem no espelho...
_Bom, eu estava sendo cínica, sua tonta. Eu falo mesmo! E é você que deveria estar calada, porque você é uma imagem!Uma imagem tonta ainda por cima...
_Peraí, dá pra parar de me chamar de tonta? Só eu mesma tenho direito de denegrir a minha própria imagem!
_Mas você não disse a pouco que eu era a sua própria imagem?
_É! Então só por isso vou dizer: Sua tonta!
_Vê como você está me imitando? plagiou até a minha fala!
_Ah! Tenha dó! Eu não preciso ficar ouvindo eu mesma me contrariar.
_É verdade, então você segue pra direita e eu pra esquerda e pronto, estamos livres uma da outra.
_De acordo!
_Ei! Eu é que ia pra este lado! Você é tão tonta que não sabe nem pra onde está indo!
_E você sabe pra onde eu devo ir, quer dizer, pra onde você deve ir?
_Bom, se estou indo, provavelmente estou indo pra algum lugar.
_É, que bom. Pois vou embora, me cansei de você.
_Mas você não pode se livrar de si mesma!
_E você pode?
_Não, mas eu posso ir a qualquer lugar que eu queira!
_
Claro que pode! Mesmo porque imagens podem quebrar espelhos e sair por aí! Hahaha!
_É, realmente eu não posso sair. Mas pior é você, que está livre e não pode ir onde você quer.
_Ah é? E o que me impede?
_Você mesma!
(Silêncio)

domingo, 30 de maio de 2010

Ampulheta



3, 2, 1...
Olá, bem vindo a lugar nenhum
Lugar nenhum que você possa se encontrar
Sente-se, fique a vontade, tome um pouco de chá
Tome nota, tome o medo que há em você e suma!
Veja como você se vai, você viu?
Vai outra vez à procura de si próprio
Si próprio que não pode decifrar
Como se correr de tudo adiantasse
Como se conter o grito o acalmasse
Tentativas desesperadas de tentar se salvar
De algo que você mesmo não sabe explicar
Tentando desesperadamente reunir seus pensamentos numa caixa pequena
Ou numa garrafa talvez, para poder tomar de um único gole apenas
São muitas idéias pra pouco espaço
É muito espaço pra pouco ar
Você nunca tem controle e deixa o seu próprio tempo lhe escapar
E nunca tem tempo de escape pra ter seu próprio controle
Isso te tira o sono, lhe foge pelos dedos como poeira
A sua incerteza, ela nao te deixa ter tempo de tentar
E o vento leva, leva consigo o resto de areia que resta do seu tempo
E pensar que nunca existiu um tempo sem dúvidas pra você
Mas, sempre houve um tempo em que seus sonhos virassem areia
Antes você vivia em função de alguma razão pra acreditar
E Agora? Tarde demais. Vê na ampulheta?
Seu tempo acabou de se esgotar.